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terça-feira, 25 de março de 2014

Alguns Rituais

Rituais

A tradição de uma série de rituais é referência no muay thai desde os seus primórdios até aos dias de hoje, sendo que continuam reverenciados enquanto parte fulcral desta tradicional arte marcial. Para o praticante de muay thai esta disciplina, mais do que um desporto de combate, é considerada uma filosofia, sendo adoptada por muitos como um estilo de vida. Através de rituais realizados antes dos combates, os atletas procuram saberes fundamentais relacionados com a verdade, com a mente, com o conhecimento, onde demonstram e procuram forças e proteção espiritual para o combate respetivo. Cada um destes elementos do muay thai tradicional está profundamente ligado com a religião budista e crenças particulares do povo tailandês. A devoção budista desta nação pode ser observada na prática e nos seus costumes. Os templos budistas continuam a ser diariamente frequentados por lutadores e treinadores que neles realizam as suas preces, solicitando proteção e sucesso nas suas carreiras. Muito antes da religião budista ter chegado ao povo tailandês, este já possuíam uma cultura, crendo completamente na existência da vida após a morte e nos seus próprios espíritos protetores, que acreditam estarem presentes no muay thai. A religião do povo tailandês abrange mais do que a simples devoção budista e isto pode ser observado na prática quotidiana dos templos. Muito antes do budismo se instaurar nas terras de Sião, o povo thai era animista, ou seja, acreditava na existência de espíritos presentes em toda a parte. O budismo foi ocupando progressivamente o seu lugar de uma forma organizada mas sem eliminar por completo a crença anterior. Um dos costumes religiosos do povo tailandês consiste na utilização de um altar conhecido como casa dos espíritos, por eles designado de san phra phum (em tailandês: ศาลพระภูมิ). Cada centro de treino tem o seu pequeno local de culto sendo este adornado todos os dias com grinaldas de jasmim frescas e com oferendas de comida e bebida. Paralelamente, o povo tailandês acredita em amuletos da sorte e para o lutador tailandês existem dois dos quais este nunca se separa: o mongkon (coroa) e o kruang Ruang (bracelete). Não se sabe com precisão quando é que estes dois objectos sagrados se tornaram parte integrante do muay thai. A opinião geral é de que os mesmos foram introduzidos pelo Príncipe Negro, por volta do século XVI, como um elemento essencial dos rituais de combate.

Wai Kru

O wai kru também designado de khuen kru refere-se a uma cerimónia que tem como objetivo homenagear o mestre. Todos os anos é feita uma homenagem ao mestre do respetivo campo, a que se denominayohk kru. Contudo, sempre que os pupilos queiram usar o conhecimento que lhes foi ensinado, começam por mostrar o seu respeito homenageando o seu mestre com uma dança previamente desenvolvida, que antecede o combate.Assim, o wai kru consiste numa primeira parte da dança, durante a qual o lutador percorre o ringue caminhando ao longo do perímetro circunscrito pelas cordas. Este atua com uma pausa em cada um dos cantos, rezando uma pequena oração. O ato de percorrer o ringue apresenta como simbolismo o delimitar o mesmo, conjurando infortúnios e protegendo o lutador durante todo o confronto. Seguidamente, o atleta dirige-se ao centro do ringue, ajoelhando-se voltado para o seu campo de treino. Pausadamente, une as suas luvas em frente da sua face, começando a inclinar-se enquanto reza pequenas orações budistas. Este conjunto de movimentos é repetido por três vezes, prestando homenagem a três entidades divinas. Durante estas preces o lutador dignifica Buda, a Sangha(ordem dos monges) e o Darma (os ensinamentos de Buda). Simultaneamente, o atleta dá graças ao seu mestre, ao seu campo e aos seus antepassados do muay thai. Quanto à etimologia do nome, waisignifica "retribuir respeito" enquanto que kru significa "professor"; conjugando, obtém-se acepção de "retribuir respeito ao professor".

Ram muay

Ram muay empregue antes do combate iniciar. Um ritual realizado antes de cada disputa como forma de preparação dos lutadores para o confronto.
Subsequentemente ao ritual wai kru, e em movimentos sequenciais, o lutador começa a desenvolver uma lenta série de movimentos estilizados, o ram muay, sendo este executado ao ritmo da música que conduz o lutador em direcção às quatro cordas do ringue em busca de proteção. Cada atleta elabora uma dança própria que se diferencia de qualquer outro. Alguns dos lutadores incorporam movimentos únicos da região de onde são oriundos, enquanto que outros atletas simplesmente acrescentam movimentos próprios. O ritual tem como objetivo manter afastados os espíritos do mal, sendo empregue sempre antes dos confrontos com o propósito de que nenhum mal ocorra para com o lutador e o seu mestre. Em suma, o ram muay tornou-se um entretenimento adicional para o espectador do muay thai e um alongamento que consiste em desenvolver uma série de movimentos previamente estabelecidos ou improvisados dentro do ringue Além de ser uma tradição litúrgica, esta série ritmada de gestos e de passos serve também como aquecimento antes do início do combate, sendo igualmente uma forma de relaxamento que prepara o competidor física e mentalmente. Os lutadores que apresentam o mesmo estilo de dança são da mesma escola. Existe a crença que a prática do ram muay traz sorte e protege contra acontecimentos funestos. O ram muay é executado de acordo com as instruções e estilo do treinador, variando de região para região e de treinador para treinador. Em todo o treino de muay thai, o ram muay constitui uma parte fundamental da aprendizagem.
Para que o preceito seja possível, existe um costume aplicado previamente que determina a relação futura entre o aluno e o mestre. O khuen kru ouyohk kru é denominado aquando o instrutor aceita o estudante, assim como quando o estudante aceita o instrutor para treiná-lo. No passado, o aluno era obrigado a servir o seu mestre por um determinado período de tempo antes do treino propriamente dito ter início. Durante este período o mestre observava o aluno assegurando-se a confiabilidade do mesmo, da sua honestidade e capacidade, atributos estes de alguém digno à aprendizagem desta arte. Uma vez correspondidas as expectativas quanto ao desempenho do aluno, o treinador determinaria administrar o khuen kru. Esta cerimónia marca o ponto em que mestre e aluno se aceitam mutuamente para o exercer de uma aprendizagem útil e proveitosa. O estudante passa ao dever de cumprir as regras e regulamentos estatuídos pelo seu mestre. O ram muay era executado no passado como forma de prestar homenagem ao rei que era normalmente um espectador assíduo das grandes competições. Consequentemente, o ram muaytornou-se uma tradição que preserva a arte do muay thai, não permitindo a perda da sua autenticidade. Este rito de passos e gestos cadenciados, é pois a primeira etapa a ser transmitida ao principiante da belicosa arte tailandesa.

Saudação

Depois de completos os rituais wai kru e ram muay, tanto o lutador como o seu mestre realizam uma saudação. Comum entre os praticantes da religião budista, esta saudação é efectuada com as mãos juntas à frente do rosto, seguindo-se uma pequena flexão frontal com a cabeça e tronco. As mãos devem estar posicionadas mais à frente dependendo da importância da pessoa que se cumprimenta. Esta saudação realiza-se em todas as ocasiões de encontro, pronunciando-se as palavras sawadee krap ou kaa kru muay. Por sua vez, aquando a saudação feminina, são proferidas as palavras sawadee kaacomo cumprimento feminino.

Mongkon

O mongkon refere-se a uma coroa usada pelos lutadores quando entram no ringue. Este objecto sagrado é tradicionalmente benzido em sete mosteiros budistas, sendo colocado na cabeça do lutador antes do mesmo entrar no ringue de combate e, naturalmente, de serem executados os rituais wai kru e ram muay.O mongkon pertence ao mestre e ao campo de treino do lutador. Todos os atletas de determinado campo utilizam o mesmo mongkon. Este é colocado na cabeça do lutador antes do mesmo se deslocar para o ringue, precedido de uma breve oração, que se acredita que protegerá o lutador de graves lesões, sendo que expulsará os espíritos negativos da área de combate. Por fim, o sagrado objecto é removido do lutador quando este termina uma série de movimentos sequenciais que completam o wai kru e o ram muay. A colocação e remoção do mongkon é executada, geralmente, pelo treinador do ginásio, contudo pode também ser efectuada pelo pai do lutador ou alguém bastante próximo do mesmo. O mongkon é único para cada campo. Este objeto purificado permite que, através da sua posição e formato, seja possível distinguir o respectivo local da Tailândia de onde o atleta é proveniente. No passado, caso a parte de trás do mongkon estivesse apontada para cima, significava que o lutador era originário do norte da Tailândia. Uma vez que a parte de trás estivesse apontada para baixo, então o mesmo pertencia ao sul do país. Adicionalmente, se a extremidade posterior estivesse apontada para trás, então o atleta pertencia à zona centro da Tailândia. Outrora, os lutadores estavam deveras interditos de transportar ou colocar em si mesmos este objeto. Contudo, é hoje comum que o mongkon seja já segurado pelos atletas, sobretudo no ocidente. Como peça sagrada, e de acordo com as tradições budistas, o mongkon é sempre guardado acima da cabeça de todos na sua presença e nunca é suposto que o mesmo toque o solo.

Paprachiat

O paprachiat também conhecido por prajied ou kruang ruang refere-se a uma corda trançada colocada no braço do lutador. Ao contrário do mongkon este é um objeto pessoal. O amuleto sagrado é oferecido ao lutador antes de este iniciar a sua carreira no campo de treino durante o seu período de formação espiritual que deve ocorrer por um tempo de aproximadamente seis meses num mosteiro. Ao longo da cerimónia final no mosteiro, o amuleto é benzido pelos monges, transformando-se num importante talismã. Ao longo do tempo, e principalmente em regiões fora da Tailândia, estes formalismos foram-se perdendo, no entanto outros ainda se mantém. O kruang ruang é consumado a partir de tecido proveniente de roupas sagradas de um monge, assim como de roupas de um membro da família do lutador. Este pode usar o kruang ruang em apenas um dos braços, evidenciando qual dos seus braços é o mais forte. Porém, alguns estádios exigem que o objecto deva ser utilizado em ambos os braços, como é exemplo o estádio Lumpinee. Tal como no mongkon, acredita-se que o amuleto providência sorte, protegendo o lutador durante o combate.
Mondam S. Weerapol a realizar o ram muaypreparando-se para o combate.

Phuang malai

Também dentro das tradições está presente o phuang malai, uma grinalda de flores que é colocada no pescoço do lutador. O phuang malai é oferecido pelos colegas ao lutador como forma de amuleto e desejo de sorte. Estas flores, normalmente de jasmim, são firmadas entre si, formando uma gargantilha suficientemente grande para que o lutador a possa usar à volta do seu pescoço. Na tradição budista, as flores simbolizam a vida, a morte e a volatilidade da existência. O phuang malai não é oriundo do muay thai, tal como o mongkon e o kruang ruang, este foi incorporado no desporto por influência da cultura tailandesa, no entanto, é frequente o lutador transportar o phuang malai para dentro do ringue, onde é retirado depois das danças cerimoniais e antes do combate.

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